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"Primavera dos Museus em Potiretama" Sobre Cultura, Memória e Crise Climática

Cultura, Memória e Crise Climática: O Papel Transformador do Patrimônio Local na Primavera dos Museus em Potiretama.

O evento "Primavera dos Museus em Potiretama" transcendeu a tradicional exposição de artefatos para se estabelecer como um fórum crucial de debate sobre a interconexão urgente entre patrimônio cultural, saberes locais e a crise climática global. 
A programação, que engajou comunidades, escolas e universidades, destacou como as instituições de memória podem se tornar aliadas ativas na construção de um futuro mais resiliente.
O foco não se limitou a preservar o passado, mas sim a utilizá-lo como "ferramenta para resiliência futura"

1. Patrimônio Biocultural como Tecnologia Social
O evento inaugural, "Um tour pela comunidade conhecendo o Museu Comunitário e a Casa de Sementes" em Catingueirinha, iluminou a relevância do patrimônio biocultural para a sobrevivência e adaptação. 
Casa de Sementes: Este espaço guarda sementes crioulas, adaptadas por gerações a um ambiente específico. A preservação dessas sementes é descrita como uma "tecnologia social e biológica de baixo custo, mas de altíssima relevância local", fornecendo ferramentas essenciais para enfrentar as mudanças climáticas no contexto regional.

2. A Crise Climática e a Ameaça ao Patrimônio Arqueológico.
Em uma palestra científica, o Dr. Mário Martins Viana Júnior (Professor de História na Federal do Ceará) abordou as "trilhas arqueológicas como meio de proteção histórico-cultural, patrimonial e ambiental".
A discussão salientou um paradoxo: os sítios arqueológicos, que são testemunhos de como sociedades passadas interagiram e se adaptaram ao ambiente [01:36], são hoje extremamente vulneráveis às mudanças climáticas atuais.
Os Efeitos Devastadores do Clima no Patrimônio Arqueológico incluem:
Erosão Acelerada: Chuvas torrenciais destroem pinturas rupestres.
Subida do Nível do Mar: Ingolindo sítios arqueológicos na costa.
Mudança de Umidade: Desintegrando material orgânico preservado por séculos.
Segundo a análise, a perda física desses sítios é "irreversível", apagando informações únicas sobre a história humana e a biodiversidade antiga – uma "perda silenciosa" que destrói páginas inteiras da nossa história.

3. Museologia Social, Educação e Saberes Ancestrais
A programação demonstrou uma forte aposta na educação e na participação social como eixos de enfrentamento à crise:
 * Museologia Social: O debate destacou que um museu, para ser "vivo", deve ser construído com e não apenas para a comunidade [03:07]. Essa vertente vê a instituição como um agente ativo na sociedade [06:25], essencial para lidar com temas complexos como as mudanças climáticas.
 * Foco na Escola: A estratégia de usar formatos variados, como vídeos e documentários, e focar no público escolar (alunos do 7º ao 9º ano) [04:06] visa sensibilizar as novas gerações, conectando a crise climática à história e identidade da própria comunidade.
 * Valorização dos Saberes Ancestrais: A palestra agendada em Baixinha focou em dar visibilidade a comunidades quilombolas e indígenas [06:46]. Embora sejam as mais vulneráveis aos impactos do clima, são também detentoras de conhecimentos valiosíssimos [07:01] sobre manejo ambiental, adaptação e resiliência. Trazer esses saberes para o centro do diálogo é visto como um ato de justiça histórica e uma necessidade para a busca de um futuro mais sustentável [07:14].
Em suma, a Primavera dos Museus em Potiretama sinaliza que os museus podem deixar de ser apenas "depósitos do passado" para se tornarem atores engajados nos desafios do presente [07:37], utilizando a cultura e a memória como fontes de inovação [09:37] e caminhos concretos para a resiliência coletiva [09:12].
Este artigo foi baseado na transcrição da gravação: Sistematização da primavera dos Museu em Potiretama | http://www.youtube.com/watch?v=9gFbxW84ZTw
A Programação
O evento, realizado em parceria com a Escola Maria Leite da Silva, propôs uma profunda reflexão sobre como a memória cultural, o patrimônio biológico e os saberes locais são ferramentas cruciais para a resiliência diante da crise climática. A programação abrangeu diversas comunidades, escolas e públicos, utilizando formatos variados como tours comunitários, palestras acadêmicas, e exibições audiovisuais.
Primeiros Eventos (Dia não especificado)
A programação teve início com a atividade "Um Tour pela Comunidade: Conhecendo o Museu Comunitário e a Casa de Sementes patrimônio mundial da vida e da memória" [00:05].
 * Tema Central: O tour ressaltou a importância da Casa de Sementes, que guarda sementes crioulas, como um patrimônio biológico e uma "tecnologia social" de altíssima relevância para a resiliência futura e a sobrevivência [00:30].
 * Local: Comunidade de Catingueirinha (Escola Maria Leite da Silva).
Às 18:30 no mesmo dia, a agenda continuou com a palestra do Dr. Mário Martins Viana Júnior, professor de História da Universidade Federal do Ceará (UFC) [01:10].
 * Tema: "Trilhas Arqueológicas como meio de proteção histórico-cultural, patrimonial e ambiental" [01:17]. A discussão focou em como os sítios arqueológicos são vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas (como erosão e subida do nível do mar) e como a proteção desses locais se liga à educação ambiental para as novas gerações [01:36].
Eventos Intermediários
Terça-feira, dia 23 [02:34]:
 * O Professor Berell realizou a apresentação de um vídeo para alunos do 7º ao 9º ano na Escola André Campelo, como parte da aposta na sensibilização e educação das novas gerações [02:43].
Data não certa [02:50]:
 
Houve a previsão de uma Mesa Redonda ou Debate sobre a participação social na construção de museus, destacando que para o museu ser "vivo" e relevante, ele precisa ser construído com a comunidade, garantindo sua sustentabilidade e propósito. 

O evento incluiu também a exibição de um vídeo de apoiadores.

Quinta-feira, dia 25 Em Potiretama, ocorreu a Apresentação de Documentário com Israel Correa e Wedeliton John na Escola Antônio Severiano de Holanda.

No mesmo dia, o Professor Bere, continuou seu trabalho em Alto Santo (município vizinho), apresentando um vídeo na Escola Manuel Nogueira Costa, no Sítio Embrulhadas, reforçando a conexão entre cultura local, patrimônio e crise climática.

Fechamento e Continuidade

Domingo, dia 28 (Fechamento do Ciclo)
Às 19:00, a programação retornou à Catingueirinha com a Apresentação de Videocário, um convite para mergulhar nas raízes da história local com Israel, o Professor Bere e John. O encerramento na comunidade de origem reforçou a ideia de que para entender os desafios atuais, como a crise climática, é necessário revisitar a história e a memória local.

Segunda-feira, dia 29 (Pós-Evento)
 Palestra em Baixinha com Benedita, Luciana e Fernanda (da História da UECE) marcou a continuidade da reflexão 
 
Foco: O evento abordou a museologia social, que vê o museu como um agente ativo na sociedade, e a visibilidade dos conhecimentos ancestrais de comunidades quilombolas e indígenas sobre manejo ambiental e resiliência [06:46]. Esta abordagem é vista como essencial na busca por um futuro mais sustentável.
Temas Centrais do Evento

Conexão Patrimônio x Crise Climática: A urgência em ligar a preservação da história e da cultura local (museus, sítios arqueológicos) com os desafios globais das mudanças climáticas.

Educação e Sensibilização: A estratégia de usar formatos variados (vídeos, documentários, tours) e o foco no público escolar (alunos do 7º ao 9º ano) para engajar e promover a reflexão entre as novas gerações.

Resiliência Biológica e Cultural: O papel de instituições como a Casa de Sementes, que preserva sementes crioulas, como uma ferramenta de baixo custo e alta relevância local para a adaptação e resiliência futura.

Vulnerabilidade do Patrimônio Arqueológico: A discussão sobre como os sítios arqueológicos são testemunhos de adaptações passadas, mas estão em risco de perda física e irreversível (erosão, inundação) devido aos efeitos climáticos atuais.

Museologia Social e Participação Comunitária: A visão do museu como um agente ativo e aliado na luta por direitos, que deve ser construído com a comunidade para garantir sua relevância e sustentabilidade.

 Valorização dos Saberes Ancestrais: A importância de trazer os conhecimentos das comunidades quilombolas e indígenas sobre manejo ambiental para o centro do debate, reconhecendo-os como essenciais para a construção de respostas coletivas e sustentáveis à crise climática.
A programação completa pode ser acessada através do vídeo: Sistematização da primavera dos Museu em Potiretama


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