Transformando a Sala de Aula em Sítio Histórico: A Expedição Arqueológica e Histórica em Potiretama (CE)
Transformando a Sala de Aula em Sítio Histórico: A Expedição Arqueológica e Histórica em Potiretama (CE)
Autor: Moura Deimy – Historiador (UVA) / Museu da Resistência Histórica das Comunidades
Data: Outubro de 2025
Resumo: O ensino de História e Linguagens ganha vida ao ar livre. Este artigo detalha uma proposta pedagógica inovadora realizada no município de Potiretama, Ceará, onde o território se transforma em um laboratório a céu aberto. Estruturada como uma Expedição Arqueológica e Histórica, a iniciativa do Museu da Resistência visa integrar teoria e prática por meio da análise de vestígios arquitetônicos, arqueológicos e naturais. A imersão, voltada para estudantes do Ensino Fundamental, permite que o aluno vá além do livro didático, compreendendo o espaço local como fonte histórica viva e exercitando a autoria de narrativas sobre a memória do sertão. É a Educação Patrimonial em ação, utilizando metodologias ativas para valorizar o patrimônio regional.
Do Livro Didático ao Chão da História: A Proposta da Expedição
A escola tem o poder de abrir portas para o passado, mas a Educação Patrimonial nos convida a sair da sala de aula para pisar nele. É nesse contexto que as aulas de campo assumem um papel fundamental, permitindo aos estudantes vivenciar o território como um texto histórico e cultural a ser decifrado.
A Expedição Arqueológica e Histórica, idealizada por este historiador em parceria com o Museu da Resistência Histórica das Comunidades, nasce com o propósito de imergir turmas do 8º e 9º ano do Ensino Fundamental nos conteúdos de História e Linguagens. O palco escolhido? A rica paisagem de Potiretama, no Ceará, uma região que guarda valiosos sítios arqueológicos e uma significativa herança arquitetônica rural. A meta é clara: articular ensino, pesquisa e cidadania por meio da observação direta do patrimônio local.
A Metodologia de Campo: O Laboratório a Céu Aberto
Para garantir uma experiência profunda e interdisciplinar, a expedição contou com uma equipe diversificada e um roteiro estruturado:
A Equipe e o Roteiro
A coordenação da atividade mobilizou um time interdisciplinar, reunindo as áreas de Ciências Humanas e Exatas para ampliar o olhar dos estudantes:
Coordenação: Lindocelia (Coordenação Pedagógica)
História: Benedita Maria (UECE) e Moura Deimy (UVA / Guia)
Geografia: Natielle (FRJ)
Matemática: Ronnielbe (UFERSA)
Apoio Comunitário: Wedeliton (Grupo de Jovens / Guia)
O objetivo principal era transformar o local em um laboratório a céu aberto. Ali, os alunos não só observariam, mas interpretariam vestígios, compreendendo os complexos processos históricos que moldaram o semiárido.
Contextualização: As professoras apresentaram os conceitos essenciais de patrimônio material e imaterial, situando a relevância da escola na valorização da história local.
Análise de Fontes: Antes de ir a campo, os estudantes discutiram fontes primárias do acervo do Museu da Resistência, familiarizando-se com vocabulário técnico como vestígio, resistência e patrimônio cultural.
A Expedição: A jornada começou pela Casa Colonial da antiga Fazenda Pitombeira (séculos XVIII/XIX), um poderoso vestígio da arquitetura rural. O grupo seguiu para um antigo engenho de cana-de-açúcar e, na sequência, percorreu a Caatinga, chegando a uma área com grafismos rupestres.
Registro e Autoria: Sob a orientação da coordenação, cada aluno elaborou seu caderno de campo, registrando descrições, narrativas e impressões. Este é o momento crucial de integração com a área de Linguagens.
Discussão e Conclusão: O retorno à escola culminou em uma roda de conversa, onde os estudantes apresentaram suas interpretações e hipóteses, consolidando o aprendizado. A expedição, assim, ensinou a fundamental diferença entre um "achado" e uma "fonte histórica" interpretada.
Resultados: Consciência e Pertencimento
A experiência da expedição comprovou a eficácia das metodologias ativas na educação patrimonial. Os resultados vão além da absorção de conteúdo:
Desenvolvimento de Competências: O contato direto com o patrimônio fortaleceu a consciência patrimonial e ampliou as competências investigativas e de observação científica dos estudantes.
Interdisciplinaridade Consolidada: A prática de escrever no caderno de campo, descrevendo e narrando o que foi visto (vestígios arquitetônicos, marcas da natureza, grafismos), consolidou o aprendizado interdisciplinar entre História e Linguagens.
Identidade Comunitária: A expedição não é apenas uma aula; é um ato de fortalecimento da identidade comunitária. Ao reconhecer a história em seu próprio quintal, o aluno sente-se parte ativa de uma memória maior, um princípio central defendido pelo Museu da Resistência.
O Sertão como Sala de Aula: Considerações Finais
A Expedição Arqueológica e Histórica em Potiretama é um exemplo robusto de prática pedagógica inovadora. Ela retira o ensino do plano abstrato do livro e o insere na dimensão viva da paisagem.
Ao transformar o território local em um espaço de investigação, o projeto permite que os jovens do sertão reconheçam o passado como uma dimensão ativa e integrante de sua própria identidade. Dessa forma, o ensino transcende a mera transmissão de conteúdo, tornando-se um poderoso exercício de pertencimento, observação e autoria coletiva sobre a memória regional. O patrimônio, quando vivido e investigado, deixa de ser um objeto distante e se torna o alicerce da cidadania ativa.
Você já participou de uma aula de campo em sítios arqueológicos ou históricos? Como essa experiência transformou sua visão sobre o lugar onde você vive?
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