Flores do Sertão
Construindo o Legado das mulheres Moura
Luciana Idalina Alves Moura¹
Graduanda em História
A 23º Semana Nacional dos Museus em 2025
aconteceu entre os dias 12 e 18 de maio de 2025, com o tema “O futuro dos
museus em comunidades em rápida transformação”. O evento é organizado pelo
Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e tem como objetivo celebrar o Dia
Internacional dos Museus 18 de maio. Integrando a Semana Nacional dos Museus os
eventos relacionados a temática buscaram apresentar e construir narrativas
relacionadas à história local, ao patrimônio e a memória, visando preservar o
legado de lutas, resistências e os laços que unem a comunidade desde suas
ancestrais até a contemporaneidade.
Dando seguimento à dinâmica do encontro,
Michele convidou as integrantes da Mesa Redonda para a discussão. Compuseram a
mesa a professora e historiadora Benedita Moura, cuja fala enriqueceu o debate;
Gracinha Moura, figura central nas lutas sindicais e com forte atuação na
comunidade da Caatingueirinha, trazendo sua vivência e perspectiva; e a
advogada Rosângela Moura, líder em projetos desenvolvidos pela FRETAECE,
agregando sua visão sobre o tema.
No dia 17 de maio de 2025, a comunidade
rural da Caantingueirinha no munícipio de Potiretama, Baixo Jaguaribe, foi
palco da significativa atividade intitulada “Flores do Sertão: construindo o
legado das mulheres Moura.” Atividade foi planejada para a realização durante a
23º Semana Nacional dos Museus. Assim, a roda de conversa iniciou-se às 19h e
reuniu majoritariamente mulheres da família Moura. A assistente social Michele
Moura conduziu a mediação, abrindo o diálogo com uma reflexão sobre os laços e
tradições que fortalecem as mulheres da família Moura.
O historiador Deimy Moura, à frente das discussões da Semana Nacional dos Museus, ressaltou aspectos cruciais sobre a importância dos museus para as comunidades rurais de Potiretama. A fala de Deimy foi marcada pela exposição de alguns objetos museais durante a roda de conversa e pelo destaque em sua fala sobre a importância e o fortalecimento da comunidade com relação à construção dos museus e de sua memória como patrimônio local: preservar, construir e, principalmente, catalogar esses objetos que estão inseridos na realidade do sujeito entre passado, presente e futuro.
Com relação a essa perspectiva, no texto intitulado “Em Nome do Objeto: Museu, Memória e Ensino de História", de Francisco Régis Lopes, há essa discussão com relação ao objeto e sua historicidade com o sujeito, longe de uma visão tradicional onde o sujeito domina passivamente o objeto. O autor enfatiza ainda que os objetos carregam consigo histórias, marcas de uso, de ausências de uso ou de abuso, tornando-se vestígios do passado e "cruzamentos de itinerários possíveis" (Lopes, 2020, p. 18). Ressalta ainda que os objetos são veículos privilegiados para o pensamento sobre a historicidade do ser humano atual. Afinal, somos criadores e criaturas de artefatos.
Assim, o autor citado anteriormente desloca a tradicional visão hierárquica entre sujeito e objeto para uma perspectiva onde ambos se relacionam de forma ativa, constituindo-se mutuamente e carregando consigo histórias e significados que são fundamentais para a compreensão da experiência humana e do ensino de história. O objeto deixa de ser um apêndice do sujeito para se tornar um ator relevante na construção da subjetividade do conhecimento e do tempo.
Com relação a essa conexão que interligou a atividade entre patrimônio, memória e história local, a pauta voltada para as Mulheres da família Moura foi se construindo através da fala inicial da historiadora Benedita, que demonstrou interesse pela temática em sua fala e a sua relação com a história. A voz de Gracinha Moura, mulher que compartilhou suas experiências e lutas tomando frente nas lutas sindicais e na própria comunidade como mulher de força. Gracinha destacou durante a discussão sua jornada de superação e a força da união familiar contra diversas formas de preconceitos. Ressaltou ainda ao longo de sua fala a importância de diversas ancestrais da Família Moura, que lutavam diariamente para construir espaços dentro da própria comunidade. Assim, foi destacado a importância das parteiras da família Moura, essas mulheres que fazia o trabalho de parto sem a necessidade de um médico e que esteve por muito tempo entre nós com esse auxilio. Valorizando, assim, esse legado das mulheres da família que trazia consigo essas diversas maneiras de viver em sociedade e que diante das circunstâncias que enfrentavam superavam as maiores delas.
Rosangela Moura, advogada e mulher à frente de projetos desenvolvidos pela FRETAECE, fez uma discussão mais ampla com relação ao contexto da História da família Moura. Por sua vez destacando o contexto histórico da chegada da Família Moura, como descendentes de Portugal, de origem judaica, que tem uma longa ancestralidade até chegar ao Brasil, Nordeste, Ceará, Potiretama, Lapa. Além desses aspectos, ressaltou os preconceitos, os desafios e foram estigmatizados e conviveram com costumes, sotaques sem explicação. Especialmente ou Mouras oriundos da Lapa e Caatinga do Atanásio. O contexto histórico os Moura chegaram ao Brasil – litoral da Bahia em 1503, no navio de Bastião de Moura, o Espoir d’ Honfleur. Ele voltou para Honfleur na França ao final de 1503, e em 1504 passou outra vez pelo mesmo litoral brasileiro da atual Bahia e deixou mais parentes nossos. E onde entram as mulheres? As mulheres da família Moura, especialmente as mais antigas, traziam sua ancestralidade dons incomuns, que não tinha formação acadêmica da ciência e era desconhecido de onde elas tinham adquirido tais saberes. Fala destacada por Rosângela Moura “O fato é que muitas dessas mulheres carregavam na ancestralidade costumes e crenças de suas mães, bisavós que eram sábias espiritualmente e no domínio e uso de ervas medicinais. Muitas mulheres da família Moura sabiam utilizar as ervas encontradas na mata para muitos tipos de doenças e curavam enfermos utilizando chás, compensas, xaropes, que hoje a medicina transforma em laboratórios para fazer os medicamentos farmacêuticos.” Muitas tinham dons de oração que eram capazes de vencer várias dores (desde dor de dente, a quebranto em crianças e até acelerar partos nas mulheres no nascimento de seus filhos. E muitas sofriam descriminação por essa sabedoria).
ANEXOS
Neste anexo contém alguns objetos do Museu da Resistência das comunidade rurais de Potiretama. É interessante destacar que os objetos são doados pelos próprios moradores.
O seguinte anexo faz referência as mulheres da família Moura durante a discussão.
A discussão conectou a história das mulheres da família Moura com a luta das mulheres no movimento sindical, inspirando a ocupar diversos outros espaços, como na política, que necessariamente precisa de mulheres dando voz e lutando pela construção de uma sociedade mais justa e até na inserção de maiores pautas sociais. A discussão foi além das mulheres da família Moura; quando se abriu para o debate, tratou-se das mulheres no geral, o que trouxe muitos relatos e reflexões por parte das várias mulheres que estavam presentes durante esse momento e que foi construído coletivamente. Foi um momento interessante e que nos propôs saber muito mais sobre as nossas raízes e as nossas ancestrais.
REFERÊNCIAS
Ramos, Francisco Régis Lopes. Em nome do objeto [livro eletrônico]: museu, memória e ensino de história / Francisco Régis Lopes Ramos. - Fortaleza: Imprensa Universitária, 2020.
Arquivo pessoal Memorial Moura. História das mulheres.
Museusbr: https://cadastro.museus.gov.br/?post_type=tnc_col_208_item&p=283435&preview=true
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