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O DIÁLOGO DAS MULHERES DA FAMÍLIA MOURA

O DIÁLOGO DAS MULHERES DA FAMÍLIA MOURA
                                            
                                                                                                                                           Rosângela Moura                                      CAATINGUEIRINHA, 17 de maio de 2025.

O diálogo se deu em uma boca de noite, na igreja de Nossa Senhora das Graças, na comunidade de Caatingueirinha, intitulado “Flores do sertão: Tecendo o legado das Mulheres da família Moura” fez parte da programação da semana dos Museus, projeto do Ministério da Cultura, ao qual o Museu da Resistência da comunidade faz parte. Foi convidada quatro mulheres da família Moura: Antônia das Graças- Gracinha, Benedita Moura, Michele Moura e Rosângela Moura, sob a moderação da mesa redonda da historiadora Luciana Moura e Deimy Moura. 
Iniciou por uma apresentação pessoal e depois um histórico do projeto, seguido pelas falas das participantes em resgatar histórias de vidas dessa família tão numerosa e com ancestralidade judaica, que ocupa vários lugares do Brasil, inclusive sendo a maior família no município de Potiretama, Estado do Ceará. 

Ambas apresentaram suas histórias de vida, que se alinham a resistência, vencer o medo, buscar romper as barreiras impostas as famílias de classe baixa, principalmente as mulheres e relataram da importância de enfrentar os desafios, fazendo das dificuldades força e encontrando oportunidades na participação social, luta por direitos e na educação que transforma e empodera. O díalogo discoreu de forma descontraída, mas cheia de encantamentos, abordando a histocidade que tem essa família, fazendo um comparativo a luta de tantas mulheres no mundo, especialmente as mulheres trabalhadoras rurais. Foi observado que ao longo da história, os Mouras oriundos da Lapa e Caatinga do Atanásio sofreram preconceitos, enfrentaram desafios, foram estigmatizados e conviveram com costumes, sotaques sem explicações. Mas tudo tem um sentido de existir e só o conhecimento e as pesquisas deram conta, que a forma de ser, agir, algumas supertições e pensamentos eram advindos da ancestralidade da família, de origem judaica, que vivenciaram ancestralidade como judeus e a transição obrigatória em transforma-se em cristão novos, erradicada nos primórdios em Portugal. 
O nome Mor, do latim Morus nigra, uma árvore do Oriente Médio, espécie de amoreira, deu nome a essa família “Mor” famílias que mais tarde fugiram da santa inquisição de Portugal, pois não aceitavam as imposições de mudar para cristãos novos e os sobreviventes chegaram ao Brasil e outros países e adotaram o Moura para não serem encontrados e perseguidos.
Os Mor/Moura eram pessoas de uma inteligência invejável, foram navegadores excelentes, sabiam ler rotas marítimas e no século XII lutaram no exército que criou Portugal e por isso ganharam como prêmio uma cidade chamada Moura, existente até hoje. 
Os Moura chegaram ao Brasil – litoral da Bahia – em 1503, no navio de Bastião De Moura, o Espoir d’Honfleur. Ele voltou para Honfleur na França ao final de 1503, e em 1504 passou outra vez pelo mesmo litoral brasileiro, da atual Bahia, e deixou mais parentes nossos. E depois, seguiu para a Índia, numa missão comercial francesa, a primeira daquele país até a península Índica (somos uma das dez famílias mais antigas do Brasil. Também chegaram de návio pelo litoral do estado da Paraíba, acredita-se ser os descendentes que habitam hoje o território do município de Potiretama, sendo a comunidade de Lapa seu berço.
 
E AS MULHERES COMO ENTRAM NESSA HISTÓRIA?
Como é sabido desde o início da história da humanidade, as mulheres estão presentes e fazem seu papel, mas foram invisibilizada e a partir da ascenção do patriarcado elas não apareciam na história escrita, pois em sua grande maioria os livros existentes da época eram escritos por homens, que registravam a história toda com figuras masculinas, deixando as mulheres na total invisibilidade. No entanto o tempo passou e aos poucos as mulheres começam a partir da luta por direitos e sobrevivência, pela influência francesa pelo feminismo, entre outros fatos, as mulheres buscam seu lugar de direito na sociedade e contaremos um pouco sobre as mulheres da família Moura agora.
As mulheres da família Moura, especialmente as mais antigas, traziam na sua ancestralidade dons incomuns, que não tinha formação acadêmica da ciência e era desconhecido de onde elas tinham adquirido tais saberes. 
O fato é que muitas dessas mulheres carregavam na ancestralidade, costumes e crenças de suas mães, avós, bisavós, tataravós que eram sábias espiritualmente e tinham o domínio do uso de ervas medicinais. Muitas mulheres da família Moura, sabiam utilizar ervas encontrada na mata para muitos tipos de doença e curavam enfermos utilizando chás, comprensas, xaropes, que hoje a medicina transforma em laboratórios para fazer os medicamentos farmacêuticos. 
Muitas tinhas dons de orações que eram capazes de vencer várias dores desde dor de dente, ao chamado quebranto em crianças e até acelerar partos nas mulheres no nascimento de seus filhos. E muitas sofriam discriminação por essa sabedoria. Lembrado aqui por Gracinha histórias que sua mãe contava, que dona Jovita Moura, sua avó fez o parto de mais de 100 crianças, todas nasceram vivas, conhecimento herdado de sua bisavó Serafina Moura. 
Contavam também que existiu uma parteira chamada Aninha da Cachoeira, que foi a primeira parteira da região, ela se deslocava no lombo de um jumento para realizar partos de crianças e muitas lugares.
Muitas mulheres da família Moura, no nosso próprio município enfrentaram preconceitos, chegando até a inibir e deixarem tímidas para acesso a educação e outros direitos, mas resistia nelas uma força capaz de a cada geração avançar, a ponto de irem enfrentando os medos, desafios, preconceitos e o acesso a informação pela via acadêmica ou social fez e faz toda diferença. 
Atualmente as mulheres dessa família enfrenta qualquer desfios e estão em vários setores da sociedade, destacando-se com inteligência, iniciativa, caráter e acima de tudo com muita coragem e resiliência. 

HISTORICIDADE SOBRE AS MULHERES

Durante a Idade Média, as mulheres tinham poucas opções de carreira além do casamento e da maternidade. No entanto, algumas mulheres se destacaram no campo medicinal, onde eram conhecidas como curandeiras, e na espiritualidade, macumbeiras, rezadeiras. E eram questionadoras, não aceitavam os dogmas com passividade, desafiando à ordem social da época, por essa razão muitas foram declaradas bruxas, termo que era na época motivo até de morte. 
Herdada da tradição familiar judaica, algumas mulheres faziam previsões diversas, desde questões metereológicas chamado de adivinhar invernos e secas, a outros dons espirituais inexplicáveis e que são desacreditados pela geração atual que não cultivou a tradição e se perdeu ao longo do tempo.
Uma cultura que até pouco tempo era tradição e não se compreendia de onde vinha, é também costume judaico (casamento entre famílias)

A RELAÇÃO COM A SANTA INQUISIÇÃO
A Inquisição foi um período sombrio da história europeia, onde muitas pessoas foram perseguidas e mortas por suas crenças religiosas ou práticas consideradas heréticas. Entre as vítimas da Inquisição estavam as mulheres sábias, que eram perseguidas por suas habilidades em áreas como medicina, ciência e espiritualidade, chamadas de bruxas que morriam queimadas em fogueiras.
Pesquisam apontam que os sefaraditas, todos da tribo de Judá, durante o império israelita sob reinado de Salomão, ocuparam portos do norte da África, da península Ibérica e outros pontos estratégicos do Mediterrâneo, até as ilhas britânicas. Os judeus, portanto, foram os primeiros ibéricos de religião monoteísta, muito antes de o catolicismo chegar ali. Em termos de data, isso significa que o sefaraditas, judeus da tribo de Judá, estavam onde hoje é a Espanha e Portugal, desde o ano 900 antes de Cristo. A cristianização dos demais ibéricos aconteceu só a partir do século V da atual Era (cerca de 500 anos depois de Cristo).


Segue um trecho de um tributo feito as Mulheres da família Moura que está na página do Memorial Moura no facebook...
 
Este álbum faz parte das etapas do Projeto Resgate Histórico-cultural da família Moura.

É uma homenagem a todas as mulheres da família MOURA. São tantas gerações que evolui em força, garra , determinação e beleza.

São tantas inspirações cada uma a sua maneira mas que dar um orgulho danado de todas elas

E SOBRE NÓS AS MOURAS, AS LAPISTAS...

Elas são as lapistas , que outrora eram discriminadas, chamadas de feias, de pobres , mas que nunca se intimidaram com os preconceitos e foram vencendo a discriminação e fazendo disso força, através da ousadia, de acreditar que um mundo mais fraterno é possível, assim como elas também eram mulheres com direito a cidadania.

Mulheres da família MOURA a vida é cheia de surpresas, mas desafios você enfrentou e enfrentará de cabeça erguida... Não foi fácil, e nem é...mas você se fez e se fará vitoriosa. Segure todas as chances e oportunidades que cruzem seu infinito caminho. Plante flores por onde passar, cative todos/as a sua volta, transforme o seu dia e das outras pessoas. E é por isso que me orgulho tanto de vocês.

Vocês são resistência, amor, inteligência, beleza e ousadia... LUZ

Falta muitas fotos, lanço a ideia das mulheres da família MOURA me enviarem suas fotos e eu as adicionarei neste tributo...
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Fotos coletadas, enviadas estão na página no facebook https://www.facebook.com/photo/?fbid=103408618137928&set=a.103408608137929 

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